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Aprendizagem Organizacional no terceiro setor: como transformar experiência em conhecimento e alinhar valores para impacto sustentável

“As organizações que aprendem são lugares onde as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar o futuro que realmente desejam.” 
(Peter Senge, A Quinta Disciplina) 

 

Organizações da sociedade civil enfrentam desafios que vão além da gestão técnica: recursos escassos, demandas sociais em mutação e contextos vulneráveis. Nesse cenário, aprender é questão de sobrevivência. No terceiro setor, isso significa coerência entre propósito e prática, avaliando experiências para transformar modos de agir. 

Como lembra Luigi Giussani: “Educar é propor a realidade como um valor a ser conhecido e amado.” Aprender não é apenas técnica, mas reflexão compartilhada. Uma organização que aprende sistematiza sua experiência, valoriza a escuta e transforma erros em oportunidades. Robert Barrett reforça: a aprendizagem só se sustenta quando processos e decisões estão alinhados aos valores que definem a identidade. Propósito vivido gera confiança, fortalece cultura e torna o conhecimento base para inovação. 

É nesse contexto que surge o Encontro Técnico Anual da CDM, criado para transformar experiências em conhecimento institucional. Desde 2023, tornou-se um espaço estruturado de partilha e análise, com três etapas: imersão com beneficiários, sistematização em painéis e produção de artigos, sustentando ciclos de melhoria contínua e decisões mais qualificadas. Em 2024, somamos a isso a brevidade inteligente, para comunicar com clareza e objetividade, fortalecendo ainda mais a capacidade de sistematizar aprendizados e gerar conhecimento útil para gestão e inovação. 

Em 2025, o Encontro Técnico avançou em densidade e propósito. Com o tema “O olhar sensível à pessoa se torna inteligência no trabalho”, acrescido da proposição sobre inovação, o 3º Encontro consolidou-se como espaço de amadurecimento coletivo na trajetória de aprendizagem organizacional da CDM. Foram constituídos sete grupos de trabalho, cada um com encontros dedicados à reflexão e revisão dos planos de ação e à proposição de inovações para implementação no próximo ciclo, sempre alinhadas aos eixos de atuação. As reflexões e conhecimentos compartilhados serão sistematizados, como nos anos anteriores, fortalecendo a cultura de aprendizagem contínua e a gestão por valores que sustentam o propósito de ser uma organização que aprende. 

A direção orienta o processo com perguntas essenciais: o que é o bem da pessoa que transforma o mundo? E como nosso trabalho favorece esse bem? Essa reflexão conecta resultados a impacto humano e valores, como propõe Barrett. 

Do ponto de vista cultural, aprendizagem só se consolida como hábito. Por isso, a CDM investe em espaços como a Prosa de Sexta e canais internos para circulação de conhecimento. Líderes que espelham valores criam segurança psicológica e tornam a aprendizagem parte do DNA organizacional. 

Esse modo de operar integra teoria e prática: visão sistêmica (Senge), experiência julgada (Giussani), gestão por valores (Barrett) e comunicação clara. O resultado é um repertório consistente sobre o que funciona, em que condições e por quê, orientando decisões e fortalecendo impacto. 

Teoria da Mudança: uma perspectiva nova 

A Teoria da Mudança em construção não é apenas um mapa causal, mas uma visão estratégica que nasce dos aprendizados acumulados. Ela reconhece que os projetos, por sua natureza, oferecem respostas parciais e temporais diante do problema da pobreza, que é multidimensional e complexo. Essa constatação é decisiva: num cenário de financiamento limitado, os projetos precisam ser concebidos como um conjunto articulado de iniciativas, pensadas para diferentes tipos de financiadores, concatenadas no tempo e profundamente aderentes aos contextos dos territórios. Essa abordagem amplia a capacidade de gerar impacto sistêmico e evita a fragmentação das ações, transformando a lógica de execução em uma estratégia integrada e sustentável. 

No horizonte, o desafio é manter práticas simples e constantes: escuta ativa, registro de evidências, clareza de linguagem e coerência de valores. Quando isso acontece, a experiência não se perde. Ela se converte em conhecimento que orienta ação, gera confiança e sustenta maturidade. 

Martionei Gomes 

Superintendente na CDM, com 30 anos de experiência no terceiro setor. Doutor em Geografia, mestre em Administração e graduado em Geografia. Atua na direção de projetos voltados à sustentabilidade, ao investimento social privado e voluntariado corporativo.

Referências 

  • SENGE, Peter. A Quinta Disciplina. 
  • GIUSSANI, Luigi. O Risco de Educar. 
  • BARRETT, Robert. A Organização Dirigida por Valores. 
  • VANDEHEI, Jim; ALLEN, Mike; SCHWARTZ, Roy. Smart Brevity. 
  • CDM. E-book Encontro Técnico Anual.